Há uma pedra
no peito
e outra na janela.
Olho para fora
sem saber se é fuga
ou um pedido de socorro
feito em silêncio.
O dia pesa
como armário antigo
que empurram contra mim
todos os minutos
enquanto sorrio no e-mail,
no ponto,
na entrega.
Eu não pedi muito,
apenas um gesto de humano
dentro do calendário mecânico,
onde se marca hora,
mas não se marca dor.
Eu digo que estou cansado,
e o mundo ouve sem escutar,
como quem responde “tudo bem?”
e já vira o rosto
antes da resposta.
Estou no limite,
mas ainda respiro.
Estou no limite,
mas ainda escrevo.
E se escrevo,
não enlouqueci.
E se enlouquecer,
que seja num verso,
e não no silêncio
que devora homens
com crachás no pescoço.
Sei que estou falando demais,
mas prefiro falar
do que virar pedra,
e cair,
inútil,
no fundo do dia.
Obrigado por ouvir.
Obrigado por deixar
que eu seja humano,
ao menos aqui,
diante da janela,
enquanto respiro.